"O EU CRIANÇA NA EDUCAÇÃO INFANTIL"
Délia Ladeia
OBJETIVO GERAL
Possibilitar a construção da identidade da criança a partir das relações sócio-histórico-culturais, de forma autêntica, consciente e contextualizada.
JUSTIFICATIVA
Segundo o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil:
A criança, como todo ser humano, é um sujeito social e histórico e faz parte de uma organização familiar que está inscrita em uma sociedade, com uma determinada cultura, em um determinado momento histórico. É profundamente marcada pelo meio social em que se desenvolve, mas também o marca...
As crianças pensam o mundo de um jeito especial e muito próprio. É a partir das relações que estabelecem com a realidade em que vivem, com o meio familiar e com as pessoas com quem necessitam se relacionar no cotidiano que elas passam a “ler” e compreender o mundo. Cabe à Educação facilitar essa “leitura” e compreensão, possibilitando, no processo inicial de escolarização, o reconhecimento, pela criança, da sua própria história de vida. É desejável resgatar a importância das suas ações e atitudes no processo de construção da história da humanidade, estimulando sempre a sua auto-estima.
Daí o Projeto Identidade: O Eu Criança na Educação Infantil para propor atividades que sejam próprias do mundo lúdico e do imaginário da criança e que colaborem para a formação de uma identidade autêntica e respaldada em valores éticos necessários ao cidadão consciente do seu papel na construção da sua história e da história do outro.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Resgatar a história de vida do aluno, tendo como fator primordial a elevação da sua auto-estima, possibilitando que ele se identifique como sujeito da história.
Identificar e reconhecer aspectos que o caracterizam no grupo ao qual pertence (características físicas e culturais, hábitos, costumes e valores).
Fazer o aluno reconhecer a existência de diferentes modos de ser e viver, tanto na sociedade em que vive (diferenças étnicas, sociais, religiosas, de gênero) como em outras culturas (comunidades indígenas, por exemplo).
Fazer o aluno reconhecer-se como sujeito nas relações de estudo, consumo, trabalho e lazer que são estabelecidas no espaço em que vive.
Promover a compreensão dos diferentes tipos de relações, harmoniosas ou conflitantes, na família, no trabalho, na produção e nas trocas.
Fazer o aluno conhecer a própria história e a história da família, sentindo-se participante dela.
Promover a compreensão da história como um processo que se constrói a partir das relações estabelecidas pelas pessoas, no tempo e no espaço.
PROCEDIMENTOS
Propor sistematicamente brincadeiras em grupos, integrando os alunos através de conversa em rodinhas, a fim de possibilitar o conhecimento e a aproximação das crianças. Organizar atividades individuais como criação e confecção de crachás, a partir de desenho e cartaz para a identificação do aluno.
Trabalhar a percepção do corpo a partir de observações sistemáticas, no espelho, do rosto, dos cabelos, das partes do corpo, da altura, etc.
Estabelecer observações em duplas acerca das diferenças e semelhanças entre os demais colegas, buscando construir o conceito do eu e do outro.
Fazer gráficos de altura com tiras de jornal, após as observações no espelho, procurando estabelecer as diferenças e as semelhanças de tamanho entre as crianças.
Trabalhar os sentidos: sensibilidade nas mãos (tato), visão, audição, olfato e paladar.
Fazer um desenho de corpo inteiro, incentivando a criança a reproduzir a sua auto-imagem; para isso, disponibilizar a ela diversos materiais como tinta, pincéis, papel colorido, botões, etc.
Promover momentos para que o aluno observe seu próprio espaço:
Na classe: nomear todos os objetos e móveis ali presentes, medir a sala com fitas de jornal, fazer a maquete da sala de aula com caixas de sapatos e outros materiais.
Na escola: passear pelas suas dependências; conhecer funcionários; pesquisar a história da escola; trabalhar com o nome da escola, com suas origens históricas; desenhar a planta baixa da quadra, com a ajuda das crianças; investigar o quarteirão em que se situa e o nome das ruas próximas; realizar um reconhecimento do bairro, fazendo visitas às casas comerciais, praças, casas de moradores e outros lugares.
Na rua onde mora: fazer um reconhecimento das casas vizinhas (lados esquerdo e direito, frente e fundo); visitar pontos comerciais, tais como padarias, farmácias, vendas, açougues (aproveitar e discutir as profissões e respectivas atividades econômicas desenvolvidas na rua e na família); realizar um reconhecimento das árvores frutíferas no quintal de casa.
Ao longo do desenvolvimento do projeto, é interessante que o professor proporcione momentos com jogos para que melhor se desenvolva a função simbólica das crianças. Assim, brincadeiras de casinhas, representações de papéis como o de pai, mãe, bebê, filho, tia, avô, avó, professora, padeiro, açougueiro, médico... são sempre muito bem-vindas. A organização do baú com roupas e adereços dá um toque fantástico no desenvolvimento dessa atividade.
Por outro lado, a conversa na roda pode proporcionar condições para que os alunos se sintam sujeitos do espaço, da história e das relações do grupo. Nessas conversas, é importante influir, para que cada resposta das crianças oportunize novas perguntas, estabelecendo-se assim um diálogo, aspecto importante na visão sócio-histórica. A seguir, algumas sugestões de perguntas:
Como é formada sua família? É grande ou pequena?
Seu pai trabalha? Sua mãe? Seus irmãos? Em quê?
Eles gostam do que fazem? Por quê?
Recebem muito ou pouco dinheiro? Quanto?
O que sua família faz com esse dinheiro?
O que é preciso para trabalhar?
Criança deve trabalhar? Por quê? Em quê?
Reconstrução da história do aluno, da escola e do bairro, ajudando-o a compreender que essas histórias podem ocorrer simultaneamente, com uma série de relações entre si.
Organização de mural de fotografias, após as pesquisas e excursões.
Construção da linha do tempo e do livro da vida. Obs.: solicitar a ajuda dos pais para realizar essas atividades.
Criação de situações para que os alunos discutam, comparem e troquem dados referentes às pesquisas realizadas.
Organização de encontros com a presença de membros da família, para que contem suas histórias, assim como as do bairro e da rua.
Leitura para as crianças; ler junto com elas: disponibilizar vários livros, possibilitando que as crianças escolham e comentem sobre sua leitura.
AVALIAÇÃO
É necessário que a avaliação seja sistemática e que, em todos os momentos do projeto, os desempenhos, as dificuldades e os avanços encontrados sejam registrados, a fim de aprimorar as etapas posteriores.
Cada professor deverá criar uma ficha de avaliação com todas as atividades a serem realizadas, observando o desenvolvimento individual da criança e da turma em geral. Os resultados servirão de ajuda ao processo educativo, fornecendo ao professor elementos que permitirão identificar os conhecimentos prévios das crianças e as condições em que se promoveram avanços na construção do conhecimento.
CRONOGRAMA
Este projeto foi uma elaboração coletiva. Em qualquer caso, recomenda-se que cada unidade escolar organize as atividades a partir do seu tempo e espaço, de modo que o Projeto Identidade tenha o formato e as características próprias da clientela com a qual será desenvolvido. Cabe aqui uma consideração importante acerca do tempo na Educação Infantil: os ritmos de produção nessa etapa são muito diferenciados, e a ansiedade do professor em executar atividades propostas, em um cronograma rígido, poderá ser improdutiva.
É importante o respeito à diversidade e à individualidade das crianças, que, nessa etapa, apresentam diferenciações significativas entre o tempo biológico (a hora de descanso, lanche, etc.), o tempo psicológico (que marca a individualidade, a singularidade, a história de vida pessoal) e o tempo cronológico (aquele do relógio, do compromisso, da hora marcada).
Recomenda-se, entretanto, que, de acordo com a realidade de cada escola, esse projeto seja realizado no primeiro semestre, para que possa ser o fio condutor no desenvolvimento de outros conteúdos e temas a serem trabalhados no decorrer do ano letivo.
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