Autor: Jon Talber[1]
--------------------------------------------------------------------------------
Para criarmos na criança nova, uma nova mentalidade, primeiro não temos que ter em nós mesmos essa nova mente?
A criança não aprende a engatinhar, ela apenas pratica aquilo que já sabe, e isso ninguém a ensinou a fazer. Chama-se a isso de instinto, igual a sua capacidade de saber chorar ao sentir fome ou desconforto físico. Do mesmo modo, ninguém a ensina a ouvir, ou a ter paladar, ou a ser sensível ao tato, ou a ter a capacidade de enxergar.
Tudo isso são processos involuntários, que mais tarde, servirão de meios para que ela seja capaz de entender o seu mundo. Assim, a criança não aprende a sentir gosto pelos alimentos, ela aprende, mais tarde, a interpretar intelectualmente o que está comendo. A mesma regra vale para todas as demais situações onde os sentidos se façam presentes.
Através da dedução lógica, o adulto acha que é capaz de imaginar, o que uma criança muito pequena está pensando; mas ele está enganado, pois, sendo ela muito pequena, ainda não pensa. E coloque-se qualquer objeto diante da mesma, e este será alvo de sua infinita curiosidade. O fato de ser naturalmente curiosa diante de qualquer coisa, não significa que possua uma vontade dirigida, voluntária e consciente.
Diante de qualquer objeto, motivada por uma curiosidade inata, ela tende a se sentir naturalmente atraída. Trata-se de puro instinto, sua curiosidade, nessa fase da vida, até por uma questão de ligeira adaptação ao mundo onde pretende sobreviver. Mas, isso tende a deixá-la vulnerável a todo tipo de influência externa, seja ela coisa má ou boa.
Sua mente ainda está limpa, não possui memórias suficientes, nem uma experiência prática para que seja capaz de elaborar pensamentos lógicos. Um pensamento lógico só pode surgir quando há experiência de qualquer natureza, uma vez que a ordem da lógica é resultado de uma comparação, medição, entre um meio conhecido, que são as memórias, e outra coisa, como um desafio novo, por exemplo.
Por instinto, a criança tende a se apegar rapidamente, mecanicamente, a qualquer objeto que lhe dê a sensação imediata de segurança física, pois segurança física é a única coisa de que necessita nesse momento. Ainda não sente medo, pois sua psique não possui memórias, lembranças de eventos vividos que a facultem lembrar de situações desagradáveis, ou atemorizantes. Também não sente necessidade de segurança psicológica, como os adultos, pois seu cérebro ainda não possui dados suficientes para isso.
A mãe é um desses objetos, ao qual ela se apega, uma vez que participa do seu bem estar, lhe dando alimento, conforto físico, aliviando seu stress, e tudo isso significa segurança física. Seus primeiros brinquedos tendem a atrair sua atenção, não porque sejam bonitos, ou interessantes do ponto de vista estético, ou engraçados, uma vez que todos esses conceitos são conclusões do intelecto, de uma mente que pensa, coisa que ela ainda não é capaz de, conscientemente, fazer.
Mas, para seus sentidos, o toque em objetos é coisa que a conforta, e quanto maior a quantidade de sentidos que ela possa trabalhar, exercitar, ao mesmo tempo com aquele acessório, mais atração e apego sentirá pelo mesmo. Ocorre que involuntariamente, sem que ela pense, seu cérebro primitivo, onde estão gravadas as instruções básicas de sobrevivência, ordenará que seus sentidos sejam testados, a todo instante. Daí sua enorme necessidade de pegar e sentir tudo que está à sua volta, sem preconceitos, sem cuidado algum, sem receios.
Usar os sentidos à exaustão, é o preparo base que sua psique precisa nesse momento. É lá onde serão gravadas informações essenciais, tais como, aquilo que é coisa desagradável e coisa agradável. Esse é o ponto de onde sua inteira personalidade será traçada. Daí nascerá o modo de comportar-se daquele indivíduo, a forma como interpretará o mundo e o modo como aparentemente “esse mundo” funciona.
Ao apegar-se a um objeto, brinquedo ou qualquer outra coisa, ela começa a desenvolver sua memória lógica, e logo sentirá necessidade de repetir aquela experiência sensorial com o mesmo. A repetição é necessária porque o cérebro precisa disso para ser capaz de gravar uma informação de forma definitiva. Por isso, irá preferir mais uns que outros, e os preferidos serão aqueles que ofereçam mais recursos, isto é, que sejam capazes de exercitar mais de um sentido ao mesmo tempo.
Sentir-se-á segura ao depender daquele objeto, pois sua mente já começa a construir um ponto seguro sobre o qual pretende se apoiar. E o objeto se torna seu conhecido, e o fato de repeti-lo muitas vezes, na sua mente, faz iniciar o processo de identificação pessoal com seu mundo. E sua personalidade começa a se formar, e também suas preferências, tudo isso a depender da sensação de conforto, ou prazer, que o objeto lhe proporciona.
A partir desse ponto, ela começa a comparar a sensação obtida com aquela experiência, com as demais que terá daí por diante. Pode ser um timbre de voz, uma música, um gesto tátil de carinho, um som desagradável ou agradável, um temor, e assim por diante.
Como ela nada conhece desse mundo novo, só é capaz de aprender através da imitação, por isto repetirá dos adultos, seus costumes, manias, medos, alegrias, vícios, tristezas, e tudo o mais. E mais uma vez, precisará repetir cada uma dessas coisas até fixar bem como memória definitiva em seu cérebro. Cria-se assim um novo indivíduo, cresce um novo veículo humano, mas com a mesma antiga mente que os adultos já possuem.
Por isso mesmo, nós, como adultos e educadores, conscientes desse fato, podemos criar esse novo indivíduo, com uma nova mente, sem repetir nossos velhos vícios, medos e amarguras. Ou podemos simplesmente, ignorar o fato, e apenas repetir a mesma e antiga mentalidade, com suas deformações e incoerências; repetir o mesmo padrão de violência e insensatez que conhecemos bem, enfim, repetir o mesmo “pensamento” que já criou o atual modelo de mundo onde vivemos.
Autor:
Jon Talber - jontalber@gmail.com
Veja mais detalhes sobre o autor nas notas abaixo.
--------------------------------------------------------------------------------
Notas:
[1] Jon Talber é psicopedagogo, pesquisador e escritor de temas de auto-ajuda. Estudou por muito tempo filosofia oriental e antropologia. Torna-se mais um colaborador eventual do nosso Site, onde pretende compartilhar parte daquilo que aprendeu.