julho 27, 2011

INSTRUMENTOS AVALIATIVOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Claudenice Costa de Souza

 Entendendo a educação como um processo contínuo e cultural do ser humano, a infância se caracteriza como categoria histórica social de direitos a uma prática educativa de qualidade compreendendo as especificidades da criança. Logo, é imprescindível que vislumbremos o ser humano como ele é. Assim,  compreender o ser humano é compreender sua unidade na diversidade, sua diversidade na unidade. É preciso conceber a unidade do múltiplo, a multiplicidade do aluno (MORIM, 2000.p.55),
            Dentro dessa visão holística, a instituição infantil em creche e pré-escola, devem estar de acordo com a lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, aprovada em 20 de dezembro de 1996, no seu artigo 31, onde afirma que: “na Educação Infantil a avaliação far-se-à mediante acompanhamento e registro do seu desenvolvimento, sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao ensino fundamental”.
            Sendo assim, a prática avaliativa da instituição de Educação Infantil, expressa no seu contexto escolar, deverá respeitar cada momento da vida da criança no seu tempo de ser e desenvolver, sendo, portanto, significativa.
            Para a garantia dos direitos da criança enquanto cidadão historicamente situado no contexto em que vive, a avaliação permite o acompanhamento das conquistas, dificuldades e possibilidades apresentadas durante a realização das atividades propostas, em que as situações de aprendizagem devem ser criadas para o seu desenvolvimento físico, intelectual, psicológico e social, com isso, percebe a importância do registro como forma de acompanhar o processo de desenvolvimento do aluno.Segundo Madalena Freire (1989,p.5)



“Porque é importante registrar? O ato de conhecer é importante? Então estar implícito o conhecimento como ato social a que esse educador faz história.  Não existe sujeito do conhecimento sem apropriação de história. É o registro que historifica o processo para a conquista do produto histórico. Possibilita também a apropriação e socialização do conhecimento E a construção da memória, como história desse processo”. 

            Sendo assim, o registro no processo avaliativo se torna um elemento indissociável do processo educativo. Processo educativo este apresentado como conjunto de ações que tem como função a observação, o acompanhamento, o registro para orientar e redirecionar o processo pedagógico como um todo. Deve, ainda, se constituir numa prática sistemática e contínua, tendo como princípio a melhoria da ação educativa, envolvendo a criança, a professora e a instituição. Segundo Jussara Hofmann (1992,p. 32), a avaliação é a reflexão transformada em ação, não podendo, portanto, ser estática nem ter caráter sensitivo e classificatório.
            Por conseguinte, não existe instrumento de avaliação capaz, por si só, de detectar a totalidade do processo de conhecimento de uma pessoa. Por isso, faz-se necessário pensar em instrumentos diversificados e possíveis de atender às especificidades do desenvolvimento e  aprendizagens das crianças.
            Diante das considerações pedagógicas explicitadas neste contexto, é importante que se definam instrumentos específicos para avaliação nas classes de educação infantil, considerando as singularidades e diferenças de cada proposta institucional e pedagógica da qual a criança participa. Assim sendo, por ser uma prática diagnóstica, processual e contínua, à avaliação é dado o atributo de responsável pelo processo de ensino e aprendizagem no trabalho educativo. À vista disso, se fez necessário que instrumentos avaliativos devessem ser definidos para que a avaliação infantil ganhasse efetivamente condições pedagógicas para ser implementada no âmbito educativo.
            Para tanto, esses instrumentos foram divididos em duas etapas: a primeira apresenta sugestões em que a professora pode escolher de acordo com o projeto de aprendizagem que está sendo desenvolvido pelas crianças, buscando atender as peculiaridades e objetivos propostos, são eles: dossiê, portfólio e atividades escritas. Na segunda etapa, são apresentados e os instrumentos necessários para o trabalho de acompanhamento, tanto da professora quantos da supervisão pedagógicos, que são: ficha de registro docente e relatório individual, das crianças. Cada um deles será explicitado a seguir:[i]
Dossiê: Atividade organizada individual ou coletivamente, obedecendo a uma seqüência cronológica no processo de desenvolvimento da criança, que, junto com a professora, pode ser colocada numa pasta ou colada no caderno, podendo ser uma atividade ao mês, por exemplo.
Portfólio: Instrumento de registro construído coletivamente durante o período estabelecido pelo grupo no projeto de aprendizagem, sem a necessidade de estar numa seqüência cronológica. Caracteriza-se pela comunicação escrita entre a professora e a criança ou entre as crianças da classe, objetivando a percepção das conquistas individuais e coletivas no processo de desenvolvimento das crianças. Pode-se construir um portfólio por classe para acompanhar  o desenvolvimento de um projeto de aprendizagem da criança. É importante considerar que o portfólio é um excelente instrumento para o registro e acompanhamento das atividades realizadas ao longo do desenvolvimento de um projeto. 
Atividades escritas: mimeografadas ou não, estas atividades devem ser elaboradas  conforme a proposta de aprendizagem que está sendo desenvolvido pelas crianças. Isto quer dizer que a professora e a supervisão pedagógica devem ter clareza quanto à internacionalidade educativa da atividade que será proposta, pois, além de estar relacionada à temática de trabalho do projeto, deve Ter significado real para as crianças.
            Nesse sentido, é importante evitar modelos estereotipados que em nada contribuem para o desenvolvimento da criança. É necessário que as atividades façam a criança pensar, refletir, buscar informações, duvidar, trabalhar individualmente e em grupos, estabelecer relações com o meio em que vive e com as experiências de aprendizagem criadas pelo projeto.
            Questões de ordem técnica devem ser consideradas pelos profissionais ao elaborarem as atividades escritas que serão realizadas pelas crianças, como: letra de imprensa maiúscula, clareza e objetividade nos enunciados, inserção de imagens ou desenhos quando necessários ao contexto das questões, número de itens de acordo com a fase de desenvolvimento das crianças, legibilidade quando mimeografadas e com organização espacial coerente, para que a criança possa se expressar livremente.
            Outra consideração importante para o trabalho com as classes de educação infantil, considerando a idade das crianças, é que as atividades ou registros só poderão ser entregues às crianças quando estas participarem de outras experiências de aprendizagem que envolva trabalho corporal e musical, em situações dentro e fora da sala de aula. Haja vista o envolvimento das práticas de falar, escutar, ler, escrever e contar através de jogos e brincadeiras, somente depois é que poderão sistematizar essas experiências numa atividade escrita.
            O dossiê, o portfólio e as atividades são instrumentos para serem utilizados pelas crianças e professores de acordo com a forma de sistematização das atividades propostas pelos projetos de aprendizagem que venham, efetivamente, contribuir nos registros sobre o desenvolvimento das crianças, buscando sempre melhores condições pedagógicas de planejamento para a ampliação das experiências de aprendizagem para todos envolvidos.
            Os instrumentos, tais como ficha de registros e relatórios, são necessários ao trabalho pedagógico nas classes de educação infantil e, para serem efetivamente utilizados precisam do compromisso político da professora para a prática de anotações diárias no seu caderno de planos sobre o trabalho realizado, o desenvolvimento das crianças, as dúvidas, as dificuldades e as conquistas. Assim sendo, o trabalho da supervisão pedagógica poderá oferecer possibilidades reais de formação em serviço quando realizado sob os apontamentos da professora e do seu cotidiano vivido com as crianças. É, portanto, um espaço de formação coletivo em que aprendeu junto o saber e o fazer pedagógico no trabalho com a criança da educação infantil. A concepção de cada um dos instrumentos supracitados está apresentada a seguir:
Ficha de registro docente: Instrumento de registro do desenvolvimento de cada criança observado pela professora e por outros profissionais da instituição durante a realização das atividades propostas. Tal ficha coletará dados para a construção do relatório individual feito durante o bimestre letivo, considerando as frases de desenvolvimento da criança e os objetivos do projeto de aprendizagem.
            Partindo do princípio de que, cada criança está em constante evolução cognitiva, acredita-se que a ficha irá registrar os avanços contínuos e progressivos no decorrer de um bimestre para o outro assim como as dificuldades apresentadas pela criança durante a realização das atividades propostas.
Relatório: Texto escrito que registra a ação da criança durante a realização das atividades propostas, contextualizando, nos objetivos dos projetos de aprendizagem e na internacionalidade pedagógica daquele período, as observações na ficha de registro de cada criança. As informações do relatório devem ser discutidas com a supervisão pedagógica para que sejam apresentadas, de fato as conquistas e também as dificuldades das crianças para que intervenções sejam planejadas com maior fidedignidade às necessidades e curiosidades das mesmas.
            O texto do relatório deve ser claro e objetivo, com linguagem acessível aos pais ou responsáveis das crianças, pois se constitui em instrumento necessário para o acompanhamento da família. Com as informações documentadas nas fichas e no relatório, os professores, a supervisão pedagógica e a direção da instituição poderão além de refletir, acompanhar e avaliar o trabalho realizado, cabendo à direção sistematizar os dados coletados e informar aos pais ou responsáveis a avaliação da aprendizagem das crianças. Fazendo isso, o trabalho pedagógico estará completando a ação da família e da comunidade, uma vez que a contribuição dos pais ou responsáveis é fundamental para o processo de organização do trabalho pedagógico da instituição.
            A organização e higiene dos instrumentos de avaliação utilizados nas classes de educação são questões de ordem técnica que implicam em práticas de cuidados que educam as crianças quanto à capacidade estática e de valorização do trabalho pedagógico da instituição.
            Assim, juntos todos, os instrumentos apresentados possibilitam que a instituição, através do trabalho pedagógico e administrativo realizado, sensibilize pais ou responsáveis para participarem e se envolverem nos projetos de aprendizagem realizados na instituição, acompanhando efetivamente o desenvolvimento e a aprendizagem das crianças. Pois, a atitude de registro do docente sobre o seu fazer diário implica uma postura de pesquisador, um momento que reflete a sua prática e cria condições de ensino que garantam o desenvolvimento e a aprendizagem da criança.
            Por fim, não é demais esclarecer que em nenhum momento deve-se atribuir valor numérico às atividades escritas ou orais realizadas pelas crianças. À vista disso, os registros do desenvolvimento e aprendizagem da criança serão feitos em fichas próprias, conforme já explicitado, com a finalidade de coletar dados para que o relatório seja construído pela professora ao final de cada bimestre, contextualizando as informações de momentos específicos da participação da criança nas atividades propostas.
            Nesse sentido, faz-se necessário que o professor tenha uma postura dialógica diante dos instrumentos avaliativos que são inseridos na Educação Infantil, para que os resultados sejam considerados de forma a possibilitar a construção do conhecimento das crianças, onde elas aprendem de modo integral, ou seja, exercitado o  desenvolvimento afetivo, social, cognitivo e intelectual.
REFERENCIA:
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[1] Claudenice Costa de Souza, Pedagoga, Especialista em Educação Infantil pela Universidade do Estado da Bahia- UNEB, Mestranda em Ciências da Educação pela Universidade Intercontinental - UTIC

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