" Os Contos e o Poder de Formar Leitores"
"Ah! Como é importante na formação de qualquer criança ouvir muitas, muitas histórias... escutá-las é o início da aprendizagem para ser um leitor, e ser leitor é ter um caminho absolutamente infinito de descoberta e de compreensão de mundo..." (ABRAMOVICH, 1997).
CONVERSANDO SOBRE LITERATURA...
A literatura - mitos, histórias, contos, poesias, qualquer que seja a sua forma de expressão - é uma das mais nobres conquistas da humanidade: a conquista do próprio homem! É conhecer, transmitir e comunicar a aventura de ser! Só esta realidade pode oferecer-lhe a sua verdadeira dimensão. Só esta aventura pode permitir-lhe a ventura de ser!
O conto infantil é uma chave mágica que abre as portas da inteligência e da sensibilidade da criança, para a sua formação integral. A criança brinca, investiga, seu mundo é rico e em constante mudança, inclui um intercâmbio permanente entre a fantasia e a realidade...
A literatura infantil não pode querer responder apenas as questões intelectuais dos pequenos leitores. A sua importância dimensiona à medida que questiona os convencionalismos de interpretação e comportamento e apresentam novas perspectivas existenciais, sociais, políticas e educacionais. Toda estrutura de formação educacional tem como base a literatura, pois é através de uma percepção criativa que a criança será capaz de romper continuamente com esquemas de suas experiências e formar juízos autônomos frente à realidade e seus componentes.
Literatura tem como objetivo não só contato afetivo, o desenvolvimento da linguagem, da lógica, da estética, mas principalmente, a liberação da criatividade, da imaginação, da fantasia. Exatamente porque a imaginação trabalha com materiais colhidos da realidade, é preciso que a criança possa nutrir sua imaginação e usa-la em atividades adequadas, que lhe reforcem as estruturas, para crescer em um ambiente rico de impulsos em todas as direções.
Fadas e bruxas, príncipes e dragões, princesas e duendes, super-heróis e bichos que falam têm encantado crianças de todos os tempos, no mundo inteiro. Em contos de fada, fábulas, lendas, histórias em quadrinhos, etc, essas personagens vivem incríveis aventuras, criadas pelos povos através dos tempos, na tentativa não só de explicar o mundo em que vivemos, mas também, de nos divertir, nos emocionar, nos ensinar e, às vezes, nos aterrorizar. Algumas dessas histórias nos despertam um interesse momentâneo e passageiro, mas muitas delas ficam em nós para sempre.
"...Quando o contador dá tempo às crianças de refletir sobre as histórias, para que mergulhem na atmosfera que a audição cria, e quando são encorajadas a falar sobre o assunto, então a conversação posterior revela que as histórias têm muito a oferecer emocional e intelectualmente, pelo menos para algumas crianças." (BETTELHEIM, 1980).
Em uma análise sobre a Literatura Infantil na Escola, Regina Zilbermann diz que "A mesma pode ter um papel transformador do ensino, não pedagógico e limitador, conduzindo, a criança a se transportar para além das fronteiras de escola, ampliando seus conhecimentos e adquirindo uma forma de recreação primitiva e útil em todas as épocas de sua vida." (ZILBERMANN, 1994).
Para Piaget, quanto mais a pessoa tenha visto e ouvido, tanto mais deseja ver e ouvir. Quanto maior for o conhecimento perceptivo, afetivo social e comunicativo, tanto maior será o conhecimento da sua inteligência.
Maria Helena Martins coloca que "O ato de ler vai além da escrita e que a leitura precisa estar ligada ao nosso corpo, provocando reações como os órgãos do sentido. Mas para que essas reações se manifestem, os textos precisam agradar, provocar impactos com situações às vezes esquecidas, causando novas construções, incitando à fantasia, trazendo saídas para os próprios conflitos, provocando inter-relações, dando abertura a inúmeras leituras." (MARTINS, 1991).
A importância do corpo é indiscutível... o corpo afinal deseja, anuncia, protesta, se curva, ergue, desenha e refaz o mundo." (GADOTTI, 1991).
A criança é criativa e precisa de matéria prima sadia e com beleza para organizar seu "mundo mágico", seu universo possível, onde ela é dona absoluta: constrói e destrói, constrói e cria, realizando-se e realizando tudo o que ela deseja. A imaginação bem motivada é uma fonte de libertação com riqueza. É uma forma de conquista de liberdade, que produzirá bons frutos, como a terra agreste, que se aduba e enriquece, produzindo frutos sazonados.
A literatura infantil enriquecendo a imaginação da criança vai oferecer-lhe condições de libertação sadia, ensinando-lhe a libertar-se pelo espírito: levando-a a usar o raciocínio e a cultivar a liberdade.
Sonhar é preencher vazios, é criar condições terapêuticas para os impactos da realidade, é libertar-se, enfim!
A fantasia, o mundo colorido, os sonhos e a realidade são histórias de todas as pessoas, dos nossos tempos, de todos os tempos e da aventura mágica de viver.
Justificativa
Através da expressão “Era uma vez”, entraremos num mundo mágico, aonde a realidade vai ao encontro da imaginação da criança. Com isso, trabalharemos o senso moral que algumas histórias nos oferecem, para ilustrar situações do cotidiano e até resolver possíveis conflitos, medos, desagrados, preferências e vontades, para melhorar seu convívio social e ampliar sua auto confiança, identificando cada vez mais suas limitações e possibilidades e agindo de acordo com elas.
Entre o “Era uma vez” e o Viveram felizes para sempre”, os contos de fadas, os mitos, fábulas e lendas nos trazem personagens interessantíssimos com narrativas derivadas de tradições orais. Hoje, estes personagens nos permitem examinar concepções da realidade de diferentes povos, transparecendo valores humanos sempre atuais, aguçando a capacidade de raciocínio. Por isso a escolha desse tema.
Através de uma atividade com contos, pode-se despertar nos alunos o hábito da leitura e da escrita, da criação e da produção.
Objetivos
· Através da observação dos personagens descobrir as dificuldades de cada um em aceitar uns aos outros.
· Conhecer as diferenças culturais e, de uma maneira mais “mágica,” conseguir transferir/ reforçar os valores morais em nossa sociedade e se deliciar com novos “amigos imaginários”.
· Contribuir com a formação moral da criança, envolvendo diversos aspectos, além de regras e preceitos, ou seja, o que se deve e o que não se deve fazer para o convívio com o outro.
· Favorecer o desenvolvimento criativo dos alunos, através de diferentes expressões, tais como: desenhos, músicas, produções de textos e dramatizações .
· Conhecer os contos que são mais comentadas em cada local .
· Perceber a evolução dos meios de transporte, comunicação, do tipo de alimentação, do vestuário, hábitos e costumes até os dias atuais.
Público alvo:
Alunos do 1º e 2º ano
Cronograma
Este projeto deverá ser desenvolvido no decorrer do ano letivo de 2008, todas às terças-feiras.
Metodologia
· Motivar os alunos para conhecer alguns autores de contos. Proporcionar espaço para os alunos expressarem as suas opiniões e comentários.
· Conversar sobre o que é uma fábula e um conto.
· Disponibilizar para os alunos diversos contos .
· Criar contos através da linguagem gráfica ou escrita.
Atividades
· Conhecer a diferenças entre conto e fábula.
· Listar os contos de fadas que eles já conhecem;
· Em roda compartilhar o início do projeto e seu produto final;
· Na biblioteca observar e separar os livros de contos de fadas dos livros de outros gêneros;
· Proporcionar momentos de leitura em roda e reconto de histórias já ouvidas, essa atividade ocorrerá durante todo o projeto;
· Leitura de contos de diferentes autores;
· Pedir para que as crianças ditem um conto de fadas, para analisar se eles se apropriaram da estrutura do texto;
· Pedir que as crianças desenhem as histórias a medida que são lidas, para fins de ilustração;
· A professora irá revisar os textos, percebendo a coerência e o uso das regras de linguagem;
· Descrever as características principais dos personagens das histórias lidas;
· Descrever as características do local onde ocorrem os fatos, e os acontecimentos que se repetem;
· Pedir que elas escrevam os nomes dos personagens de próprio punho;
· Escolher as ilustrações feitas pelas crianças que vão acompanhar a história;
· Mostrar às crianças as partes de um livro (capa, contra-capa, autor, título, índice, etc...);
· Observar o vestuário da época;
· Preparar e ensaiar a apresentação teatral para o final;
· Pedir para que as crianças criem uma história com as características dos contos de fadas para ser aprimorado durante todo o projeto, chegando a uma versão final;
· Criar novos contos com questões do dia a dia e ilustrá-las;
· Organizar com a turma um livro com os contos de fadas criados;
· Montar um mural com os contos de fadas;
· Visitar os sites para conhecer outros contos de outros autores;
· Realizar um intercâmbio com os alunos da mesma série e das outras séries.
· Preparar a exposição dos trabalhos e finalizar o projeto.
Contos SugeridosJoão e MariaAs doze princesasCinderelaO gato de botasBranca de Neve A Pequena SereiaA princesa e a ervilhaRapunzelA bela e a fera
Desdobramentos
Língua Portuguesa
· Vocabulário
· Ortografia
· Produção de texto
Artes
· Histórias em quadrinhos
· Músicas
· Desenhos
· Dramatizações
Estudos Sociais
· As regiões
· Os costumes
· A maneira de expressar-se
Produção Final
Confecção de um livro de contos de fadas, realizado a partir dos trabalhos dos próprios alunos e disponibilizar este material para a família em noite de autógrafos.
Materiais a serem utilizados:
Livros, vídeos, sulfite, lápis de cor, giz de cera, papeis coloridos, cola, tesoura, caderno, etc.
Culminância
Livro de Contos de Fadas feito pelas crianças e noite de autógrafos.
Avaliação
Serão avaliadas todas as atividades desenvolvidas de forma contínua.
Fique por dentro!!!
Fábulas (do latim- fari - falar e do grego - Phao - contar algo)
Narrativa alegórica de uma situação vivida por animais, que referencia uma situação humana e tem por objetivo transmitir moralidade. A exemplaridade desses textos espelha a moralidade social da época e o caráter pedagógico que encerram. É oferecido, então, um modelo de comportamento maniqueísta; em que o "certo" deve ser copiado e o "errado", evitado. A importância dada à moralidade era tanta que os copistas da Idade Média escreviam as lições finais das fábulas com letras vermelhas ou douradas para destacar.
A presença dos animais deve-se, sobretudo, ao convívio mais efetivo entre homens e animais naquela época. O uso constante da natureza e dos animais para a alegorização da existência humana aproximam o público das "moralidades". Assim apresentam similaridade com a proposta das parábolas bíblicas.
Algumas associações entre animais e características humanas, feitas pelas fábulas, mantiveram-se fixas em várias histórias e permanecem até os dias de hoje.
leão - poder real
lobo - dominação do mais forte
raposa - astúcia e esperteza
cordeiro - ingenuidade
A proposta principal da fábula é a fusão de dois elementos: o lúdico e o pedagógico. As histórias, ao mesmo tempo que distraem o leitor, apresentam as virtudes e os defeitos humanos através de animais. Acreditavam que a moral, para ser assimilada, precisava da alegria e distração contida na história dos animais que possuem características humanas. Desta maneira, a aparência de entretenimento camufla a proposta didática presente.
A fabulação ou a fabulação é a lição moral apresentada através da narrativa. O epitímio constitui o texto que explicita a moral da fábula, sendo o cerne da transmissão dos valores ideológicos sociais.
Acredita-se que esse tipo de texto tenha nascido no século XVIII a.C., na Suméria. Há registros de fábulas egípcias e hindus, mas atribui-se à Grécia a criação efetiva desse gênero narrativo. Nascido no Oriente, vai ser reinventado no Ocidente por Esopo (Séc. V a.C.) e aperfeiçoado, séculos mais tarde, pelo escravo romano Fedro (Séc. I a.C.) que o enriqueceu estilisticamente. Entretanto, somente no século X, começaram a ser conhecidas as fábulas latinas de Fedro.
Ao francês Jean La Fontaine (1621/1692) coube o mérito de dar a forma definitiva a uma das espécies literárias mais resistentes ao desgaste dos tempos: a fábula, introduzindo-a definitivamente na literatura ocidental. Embora tenha escrito originalmente para adultos, La Fontaine tem sido leitura obrigatória para crianças de todo mundo.
Podem-se citar algumas fábulas imortalizadas por La Fontaine: "O lobo e o cordeiro", "A raposa e o esquilo", "Animais enfermos da peste", "A corte do leão", "O leão e o rato", "O pastor e o rei", "O leão, o lobo e a raposa", "A cigarra e a formiga", "O leão doente e a raposa", "A corte e o leão", "Os funerais da leoa", "A leiteira e o pote de leite".
O brasileiro Monteiro Lobato dedica um volume de sua produção literária para crianças às fábulas, muitas delas adaptadas de Fontaine. Dessa coletânea, destacam-se os seguintes textos: "A cigarra e a formiga", "A coruja e a águia", "O lobo e o cordeiro", "A galinha dos ovos de ouro" e "A raposa e as uvas".
Contos de Fadas
Quem lê "Cinderela" não imagina que há registros de que essa história já era contada na China, durante o século IX d. C.. E, assim como tantas outras, tem-se perpetuado há milênios, atravessando toda a força e a perenidade do folclore dos povos, sobretudo, através da tradição oral.
Pode-se dizer que os contos de fadas, na versão literária, atualizam ou reinterpretam, em suas variantes questões universais, como os conflitos do poder e a formação dos valores, misturando realidade e fantasia, no clima do "Era uma vez...".
Por lidarem com conteúdos da sabedoria popular, com conteúdos essenciais da condição humana, é que esses contos de fadas são importantes, perpetuando-se até hoje. Neles encontramos o amor, os medos, as dificuldades de ser criança, as carências (materiais e afetivas), as auto-descobertas, as perdas, as buscas, a solidão e o encontro.
Os contos de fadas caracterizam-se pela presença do elemento "fada". Etimologicamente, a palavra fada vem do latim fatum (destino, fatalidade, oráculo).
Tornaram-se conhecidas como seres fantásticos ou imaginários, de grande beleza, que se apresentavam sob forma de mulher. Dotadas de virtudes e poderes sobrenaturais, interferem na vida dos homens, para auxiliá-los em situações-limite, quando já nenhuma solução natural seria possível.
Podem, ainda, encarnar o Mal e apresentarem-se como o avesso da imagem anterior, isto é, como bruxas. Vulgarmente, se diz que fada e bruxa são formas simbólicas da eterna dualidade da mulher, ou da condição feminina.
O enredo básico dos contos de fadas expressa os obstáculos, ou provas, que precisam ser vencidas, como um verdadeiro ritual iniciático, para que o herói alcance sua auto-realização existencial, seja pelo encontro de seu verdadeiro "eu", seja pelo encontro da princesa, que encarna o ideal a ser alcançado.
Estrutura básica dos contos de fadas
· Início - nele aparece o herói (ou heroína) e sua dificuldade ou restrição. Problemas vinculados à realidade, como estados de carência, penúria, conflitos, etc., que desequilibram a tranqüilidade inicial;
· Ruptura - é quando o herói se desliga de sua vida concreta, sai da proteção e mergulha no completo desconhecido;
· Confronto e superação de obstáculos e perigos - busca de soluções no plano da fantasia com a introdução de elementos imaginários;
· Restauração - início do processo de descobrir o novo, possibilidades, potencialidades e polaridades opostas;
· Desfecho - volta à realidade. União dos opostos, germinação, florescimento, colheita e transcendência.
Contos de fadas: características
• Problemática existencial: morte, vida, amor, envelhecimento, separação, sexualidade, dilemas edipianos, rivalidades fraternas, etc.• Início feito para partir do aqui e do agora, mostrando que a história se passa longe do mundo real: “Era um vez...” “Há muitos e muitos anos...”• Final feliz, pois após tanto sofrimento a criança precisa de alívio: “E viveram felizes para sempre...”• Obstáculos a vencer: são uma forma de crescimento interior.• Elementos de encantamento e dicotomia: bem versus mal.• Narrativa: complexa, com a presença de muitos diálogos.• Presença de um narrador: figura que detém todo o conhecimento e que é “dono da vida” dos personagens.• Vocabulário rico.• Acontecimentos: encadeiam-se não por laços lógicos, mas por laços afetivos.• Presença de castelos (resquícios medievais) e bosques (onde o encantamento acontece).• Presença marcante da natureza.• Abordagens de relações: pai, mãe, madrasta, madrinha (conceito social de apadrinhamento).
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