maio 26, 2009

Hora da História...


Solidariedade no mundo das letras
StefâniaPadilha*

"Há muitos e muitos anos,
as letras moram numa floresta encantada muito linda. Essa floresta fica lá em cima no céu, numa estrela muito brilhante que solta lindas faíscas toda vez que uma criança resolve escrever.
Você nem imagina a festa que é quando as crianças resolvem escrever. . .
Todas as letras ficam saltitantes e torcendo para que a criança precise dela para registrar seu desejo, seu pensamento. Sabe por quê?
Acontece que, para sair da floresta encantada e chegar ao papel, as letras fazem uma linda viagem. Elas escorregam pela cauda da estrela, dão deliciosos pulos nas nuvens, que são supermacias e gostosas de pular. Mas o melhor mesmo é mergulhar nos sete rios do arco-íris. Cada rio é um suco mais delicioso que o outro. Por fim, fazem um vôo flutuante para o papel.
Quando escrevemos, as letras vivem uma superaventura. Mas enquanto não escrevemos, cada letrinha fica na sua casinha descansando, desenhando, tocando, cantando. Cada letra tem sua própria casa e decide como se distrair enquanto aguarda a grande aventura de ajudar as crianças a escrever.
Em todas as casas é possível observar uma grande alegria, apenas uma casinha vivia sempre fechada. As demais letras reparavam naquele fato e começaram a ficar muito curiosas:
– Quem será que morava ali?
Todas comentavam e ninguém jamais havia visto a moradora daquela casa.
Será que ela não viajava para ajudar as crianças a escrever? Como podia ser? Será que aquela casa não era de uma letra e sim de um monstro? De uma bruxa?
Que mistério!
A cada dia as letras ficavam mais curiosas e resolveram investigar.
Chegaram bem pertinho e escutaram só um gaguejo: – Q, Q, Q, Q, Q!
QUE SUSTO! Todas correram assustadas para suas casas.
Mas, no outro dia, lá estavam de novo tentando decifrar aquele mistério.
Resolveram bater na porta:
– Oh, de casa!
– Somos amigas e queremos fazer amizade, podemos entrar?
Depois de alguns minutos a porta se abriu suavemente e apareceu, sabem quem?
A letra Q.
Ela estava toda encolhidinha e trêmula. As outras letras surpreenderam-se ao ver que a moradora da casa era mesmo uma letra como elas, mas nunca havia saído de casa, ninguém a conhecia. Curiosas, perguntaram por que ela não saía e sua casa vivia fechada.
Ainda muito amedrontada, a letra Q explicou que morria de medo de um fantasma que rondava sua casa e uivava noite e dia assim:
– Uuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu!
A letra U, que escutava atenta, deu um pulinho de surpresa e disse:
– Espera aí, companheira Que baita confusão é essa? Não tem fantasma nenhum. Você está muito enganada. Eu sou sua vizinha e quero virar cantora de ópera, assim eu fico treinando e exercitando minha voz: – uuuuuuuuuuuuuuuuuuu.
Quando perceberam a confusão, todas as letras caíram na gargalhada.
A letra Q também deu um sorrisinho bem amarelo e sem graça.
A letra U completou com tom tristonho:
– Puxa vida, eu querendo abafar com minha cantoria e estou é assombrando?
– Nada disso, minha amiga, sua voz é linda! Tão linda que eu até pensei que era de outro mundo.
Nessa hora, a gargalhada foi geral, e as duas amigas Q e U abraçaram-se.
A letra Q pediu desculpas, explicando que era muito, muito medrosa.
Então a letra U contou que ela estava perdendo grandes aventuras, que era delicioso viajar pelo céu para ajudar as crianças a escrever, mas que ela estava tendo uma ótima idéia. E foi assim que combinaram:
– Amiga Q, eu prometo que toda vez que você precisar sair para viajar para o papel eu vou de mãos dadas com você. Assim você nunca vai estar sozinha.
E assim, toda vez que precisamos da letra Q para escrever qualquer coisa sua amigona U vem junto.
Você já viu a letra U sozinha várias vezes porque ela não tem medo de viajar só, mas, solidária como é, sempre encontra tempo para acompanhar sua amiga Q, que nunca anda sozinha. Você já reparou nisso? Pois agora ficou sabendo da história."


* Stefânia Padilha é pedagoga e professora de Educação Infantil da rede municipal de Belo Horizonte. Tem atuado ativamente nas lutas da categoria e pela qualidade na Educação Infantil.

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